Mário Francia Pinto nasceu em Ouro Preto, em 27 de dezembro de 1889, filho de João Batista Francia e Anunciata Francia, mãe italiana, vinda de Pichota, Província de Salermo, com um grupo de imigrantes que se instalou com familiares em Resende Costa; depois, em Capela Nova das Dores. Sobre o pai, ouro-pretano, pouco se sabe. É dito por familiares, que o professor ainda jovem, viveu com uma mulher de nome Laura, que trabalhava num circo de cavalinhos, contrariando a vontade de seu avô. Não se sabe se legalmente casado, mas o romance durou pouco e não tiveram filhos. Desiludido, por não aceitarem sua escolha, Mário veio para São Gonçalo da Ponte, onde permaneceu por 11 anos. Ali, teve outro romance com uma bela jovem de nome Maria, filha da quitandeira “Antônia do Irineu”, que morou num antigo sobrado à rua Padre Jacinto. Mário é lembrado como uma pessoa austera, de difícil relacionamento, organizado, muito exigente no cumprimento das determinações superiores. Foi por vários anos, Inspetor de Ensino em diversas cidades do oeste mineiro. Em Divinópolis, onde morou grande parte de sua vida, foi hóspede do tradicional “Iris Hotel”, cujos salões eram palcos das grandes festas da sociedade local.
"Mário era bem humorado, sempre limpo, educado, correto e elegante. Um homem que fazia do seu exterior o seu interior. Esbanjava cultura. Nos grupos escolares, por ser enérgico, não era muito querido. Queria tudo muito certinho. Já no “Iris Hotel”, fazia parte de nossa mesa, como se fosse um membro de nossa família. Enquanto lúcido, fazia os discursos nas festas do Lions, Rotery e comemorações íntimas. Ele era a cultura, bonita, antiga do homem poligrota, do homem do século passado.” - Por Edith Silva, Acadêmica, filha de Francisco Teodoro da Silva “Chiquinho”, proprietário do “Iris Hotel” e, mãe de Humberto Gutemberg Silva “Bereco”, gerente do Banco Mercantil de Belo Vale, no início dos anos 90.
A ex-auxiliar de diretora no Grupo Escolar Matias Lobato, Elza Micheline, que conviveu com o professor longos anos, declarou: - “ Ele era muito respeitado, severo dentro do direito. Gostava da coisa certa e não deixava nada para depois. Por isso, teve certas horas que não foi muito bem querido.”
No dia 05 de fevereiro de 1960, o meio cultural de Divinópolis, se reuniu para celebrar em grande estilo, o Cinquentenário de Magistério de Mário Francia Pinto. O homenageado foi saudado em carinhosas palavras preferidas pelo professor Antônio Ribeiro de Avelar, representante do Secretário de Educação do Estado. Minas Gerais deve uma homenagem de gratidão ao professor Mário Francia Pinto, que, no dia 5 de fevereiro de 1910, já tão distante, 50 anos atrás, ingressou na legião de mestres, regente de uma escola humilde e pequenina, escondida nas brenhas do arraial de São Gonçalo da Ponte, hoje sorridente cidade de Belo Vale. Ele era bem jovem, e, na irradiação do seu entusiasmo, fez-se portador de uma sugestiva mensagem, por via da qual e através de labores e de desencantos, vem servindo à coletividade mineira com irrepreensível correção. Neste meio século de sua fecunda existência, Mário soube dignificar as virtudes humanas, trabalhando sem cessar, percorrendo todos os cantos do Estado, enobrecendo o seu magistério, para o qual reservou todos os ardores do seu espírito de lutador... Ao fim desses 50 anos, assim tão carregados de serviços e de sacrifícios, na direção dos altos interesses da Pátria, Mário Francia Pinto merece esta página de amizade, de afeto, de respeito e de gratidão, pelo tanto que ele realizou, anônima e patrioticamente, com o pensamento voltado para o Brasil, para a Escola, para as crianças.” Publicado no Jornal “Minas Gerais. Além de educador, Mário dedicava outra parte de seu tempo às entidades filantrópicas de Divinópolis. Um bilhete escrito pelo professor em 23 de abril de 1971, encaminhado ao Bispo Dom Cristiano, dizia: “Estou querendo viajar e não sei a demora. Vão inclusos cheques de dois bancos que lhe peço receber o que neles consta. Incluo aqui umas letras que ficarão consigo e os juros a capitais serão também destinados aos pobres. Com o meu saudar peço-lhe que abençoe o amigo e admirador.” Doente, em avançado estado de esclerose, o professor foi levado para São Lourenço, em fins de abril de 1972, por seu primo-irmão, Ariosto Francia, que o abrigou por algum tempo em sua casa e, depois o colocou na entidade Casa de Maria, recebendo toda a assistência médica e o carinho da família. Sem a lucidez que lhe era peculiar, relembrava o professor os encontros com as autoridades educacionais, as aulas ministradas, as palestras, as ordens aos professores. Mário viveu a educação até os últimos instantes de vida! Faleceu aos 85 anos, em 26 de março de 1974, tendo ao seu lado o apoio de um sacerdote Franciscano e alguns familiares. No dia seguinte, o sepultamento foi acompanhado por estudantes, mestres e muitos amigos.