Rodolpho Cardoso Lobo, carinhosamente conhecido como Adolfo, nasceu na localidade de Lobos, Pequeri, em 29 de março de 1923. Veio de uma família muito humilde e passou por grandes dificuldades ao longo da sua vida. Dificuldades estas que não foram capazes de modificar sua natureza grandiosa e altiva. A mãe de Rodolpho, Altina, faleceu quando o mesmo tinha apenas 4 anos. Na ocasião do falecimento da sua mãe, seu pai Juvelino estava em São Paulo em busca de trabalho, como acontecia em tantas famílias brasileiras na busca por oportunidades. Sem pais, Rodolpho, junto de seus seis irmãos, foram adotados temporariamente pelos padrinhos de batismo. Quando o pai retorna de São Paulo, recolhe cada um dos filhos e volta a se casar. Esta nova madrasta, a qual Rodolpho tinha grande carinho, lutava de todas as formas para tentar superar a situação de miséria que viviam. Na falta de alternativas, muitas vezes saia com as crianças de madrugada do Pequeri até Miguel Burnier, em busca de alguma ajuda da senhora Alice Wigg, esposa do proprietário da Usina Wigg. Infelizmente a madrasta a qual muito gostava faleceu repentinamente. O pai de Rodolpho voltaria a se casar, desta vez com uma mulher que não era querida pelas crianças. Aos 18 anos, em 1941, Rodolpho deixaria sua casa para ir servir ao Exército Brasileiro em Ouro Preto. No exército aprenderia a dirigir e obteve sua carteira de motorista. Aos 19 anos foi morar na capital, Belo Horizonte. Vivendo em um pequeno apartamento compartilhado com outras sete pessoas na Rua da Bahia, muitas vezes se viu obrigado a dormir na praça Raul Soares ou na Praça da Liberdade pelas péssimas condições dos aposentos. Mesmo frente a tantas dificuldades, Rodolpho trabalhou de diversas formas. Logo que chegou começou o trabalho de “entregador de armazém”, serviço que consistia em levar produtos encomendados por telefone às casas das famílias de classe média alta da cidade. Em 1944 passaria a trabalhar como motorista particular de famílias ricas e políticos de Belo Horizonte. Trabalhando nestas casas teve contato com a música erudita, seu interesse o fez aprender profundamente sobre música clássica, paixão que levou por toda vida. Era um grande apaixonado pela leitura, em sua casa de Congonhas construiu uma biblioteca repleta de obras clássicas e tratados sobre filosofia e música. Dizia que o hábito de ler nasceu ao receber jornais de seus clientes como motorista particular, buscava todos os dias seu nome entre os convocados para a Segunda Guerra Mundial. No dia que iniciaria o chamado dos reservistas com nome iniciado pela letra R, chegou a notícia que a guerra acabara. Entre 1946 e 1950, foi motorista de táxi em Belo Horizonte. Nos intervalos do trabalho, aprendeu a jogar xadrez e damas. Viria a ser campeão belo-horizontino de xadrez e ganhador de diversos prêmios regionais e estaduais. No começo da década de 50 voltaria para sua cidade natal, Congonhas. Casou-se com Noeme Ferreira Lobo em 10 de maio de 1953. Logo depois de se casar passou a trabalhar como motorista na Companhia Siderúrgica Nacional, emprego que duraria até sua aposentaria na década de 80. Na CSN desempenhou diversas funções, tais como motorista na área de mina, motorista de ambulância e entregador de almoço, que o levaram a ter grande contato com pessoas de diferentes classes sociais. Durante seu tempo na CSN viria a aflorar uma paixão antiga: o amor pela natureza. Em um período em que desenvolvimento significava destruir e desmatar, o então motorista já tinha uma preocupação enorme com a proteção da natureza. Muitas décadas antes de ser criada a palavra sustentabilidade, Rodolpho realizou um grande projeto pessoal de plantio pelas ruas e escolas de Congonhas. Hoje mais de cem árvores espalhadas pelos bairros mais centrais e também nos periféricos são uma grande lembrança de um homem a frente de seu tempo. Sua paixão pela natureza é provavelmente uma herança hereditária, Rodolpho se orgulhava de ressaltar que descendia do povo Puri. Os Puris, como se sabe, são um grupo indígena brasileiro pertencente ao tronco linguístico macro-jê, de habitação originária no sudeste brasileiro. A região onde hoje está a atual Barbacena era uma das maiores concentrações dos Puris, sendo estes os grandes responsáveis por salvarem as araucárias da extinção. Rodolpho sempre repetia a importância dos estudos para suas filhas e filhos, para arcá-lo, começou a conciliar o emprego na CSN com o serviço de taxista, trabalho que daria o seu codinome mais conhecido: “Adolfo do Táxi”. Essas filhas se tornariam grandes nomes da educação de Congonhas, como professoras e diretoras de várias instituições de ensino locais. Os filhos se tornariam empresários de sucesso em cidades de importância em Minas Gerais, sempre movidos pela hombridade e conhecimento. Nos serviços como taxista viria a nutrir uma grande amizade com os padres e seminaristas da Congregação Redentorista de Congonhas, as conversas eram marcadas por grandes trocas a respeito de música clássica, cultura europeia (local de origem de muitos dos seminaristas) e agronomia. A amizade era tamanha que muitos dos seminaristas traziam discos de músicas clássicas dos seus países de origem, discos estes que passariam integrar a coleção de Rodolpho. Em troca, muitas vezes Rodolpho ensinava os seminaristas a dirigirem. Depois de aposentado na CSN, passaria a trabalhar somente como taxista. Nesse emprego fez amizades com turistas de diversas partes do Brasil e estrangeiros, sempre gostava de discutir sobre música clássica e diferenças culturais. Fez grandes amizades, como a com um casal de argentinos que viriam a ser padrinhos de batismo da filha de Rodolpho ou de um francês que se tornaria cantor de ópera e apresentador de rádio. Este francês, espantado com seu conhecimento em música clássica, enviava continuamente discos recém lançados na Europa. Rodolpho infelizmente foi vítima de um terrível latrocínio, em 24 de Outubro de 1997. O crime, até hoje sem resolução, mobilizou toda Congonhas.