Maria Eugênia Freire de Lima, popularmente apelidada dona Ginica, nasceu no dia 6 de setembro de 1930, no histórico povoado do Pires, distrito de Congonhas do Campo, pertencente então ao município de Ouro Preto. Filha de Evangelina da Conceição Dantas e Miguel Camillo Freire, teve mais três irmãos: José, Mercês e Quirino. Sua mãe Evangelina, descendente de escravos e indígenas, era filha de José Sant’Anna e Anna da Conceição Dantas. Ainda moça, ao trabalhar na casa de Dr. Moreira, no distrito de Alto Maranhão, aprendeu com ele a partejar, razão pela qual ficou conhecida em toda Congonhas como parteira. Era, também, afamada benzedeira contra mau-olhado, quebranto, aguamento e outras agruras. Devotíssima de Santo Antônio e do Santo Rosário de Nossa Senhora. Miguel, pai de dona Ginica, descendia da família portuguesa Freire, uma das mais antigas do Pires. Carpinteiro e apoiador do Partido Republicado de Queluz (PRQ). Era um homem alto, branco e olhos azuis. Durante a infância, Ginica mudou-se com família do Pires para o bairro da Praia, num local denominado “Ranchinho”, próximo ao encontro dos rios Santo Antônio e Maranhão. Embora feliz, sua meninice foi repleta de privações. Após a morte do pai, sua mãe Evangelina passou a sustentá-los com os trocados que ganhava realizando partos, da venda porcos e hortaliças. Em 1950, aos 20 anos, dona Ginica casou-se com Vitorino Rosa de Lima, filho de Jovelina Henriqueta Policarpo e José Rodrigues Rosa de Lima, com quem teve 16 filhos. Durante a vida passou momentos de angústias, sofrimentos e dificuldades inimagináveis. Não foi fácil criar os 16 filhos. Seu marido Vitorino era motorista da CSN, mas ganhava pouco para sustentar tantos. Todavia, Ginica soube suportar os desígnios de Deus Nosso Senhor com uma conformidade cristã que poucos hoje conhecem. Por isso, foi um porto seguro, como sempre são as mães, para seus filhos. Ginica não teve riquezas para ofertar nem legar aos filhos, mas nunca deixou que se sentissem diminuídos por causa disso. Pelo contrário, sempre lutou e incentivou para que os mesmos praticassem as atividades preferidas e participassem de todos os eventos sociais, religiosos, políticas, esportivas e culturais da cidade. “Nós somos pobres, mas podemos fazer tudo, sim”, dizia cheia de esperança. Embora tenha concluído apenas o curso primário, Maria Eugênia era amante das Letras, da História e das Artes, profunda conhecedora de plantas, flores e animais. Escrevia bem, contava histórias e recitava poesias. A sabedoria de Ginica não foi adquirida academicamente, nos bancos escolares, mas no chão de uma escola chamada “vida humana”, primorosa bagagem haurida nas adversidades vividas. E ela, como ninguém, soube tirar bastante proveito disso, pois ajudaram-na a fortalecer o caráter e fizeram-na mais temente e confiante em Nosso Senhor, único verdadeiro remédio e salvação. Ginica era procurada pelas pessoas para conselhos e desabafos. Assim, falando de forma simples, sua experiência ajudou muitas famílias. Casamentos foram restaurados, mães aceitaram as dificuldades dos filhos, mulheres desistiram de abortarem. Ela foi, em muitos casos, porto seguro para congonhenses de todas as classes que precisavam de uma palavra amiga, conforto e sabedoria. Dona de alegria contagiante, Ginica era apaixonada por carnaval, sendo presença marcante na ala das baianas das escolas de samba da cidade, especialmente do Império Praiano, agremiação do coração, da qual seu esposo era um dos fundadores. Durante toda sua existência, recebeu dezenas de homenagens como a de “Mãe Destaque”, em 1979, pelo Clube Esportivo de Congonhas. Em 1996, após concurso realizado pelo Rotary Clube e Rádio Congonhas, certame que movimentou toda cidade, Ginica foi eleito pelo voto popular “Mãe congonhense”. Em junho de 2002, dona Ginica sofreu um grande um grande golpe com a morte do filho Dimas Rosa de Lima, vítima de um acidente. Na ocasião, ao vê-lo desfalecido, afirmou que havia suportado todas as provações enviadas até então pela providência divina, mas não suportaria a dor e o vazio de perder um filho. Dias depois, sentindo-se com a saúde um pouco abalada, constatou-se a presença de um tumor no estômago. Cinco meses depois, embora não sentisse dores, Ginica submete-se a cirurgia. Antes de entrar para o bloco cirúrgico, olhou para a imagem de Maria Santíssima, símbolo da fé cristã que professou durante toda sua vida, presente no corredor do hospital, e disse: “Mãe, eu entrego minha vida em suas mãos”. Poucas horas depois, saiu do bloco, mas não resistiu a procedimento, faleceu no dia 3 de novembro de 2002, aos 72 anos. No dia seguinte, Maria Eugênia Freire de Lima foi inumada no jazido da família, no Cemitério Nossa Senhora da Conceição, em Congonhas, onde seus restos mortais aguardam o dia glorioso da ressurreição, quando em sua própria carne verá a Deus, nosso Salvador. Maria Eugênia Freire de Lima foi uma mulher forte, extremamente alegre e virtuosa, a quem parentes e amigos devotavam respeitosa veneração. Sedimentou sua existência com ações simples, porém generosas e necessárias para o desenvolvimento de Congonhas, sendo construtora de nossa história, cujo principal fruto é nossa identidade.