Maria José de Andrade, a “Dona Lalá”, nasceu em 11 de agosto de 1882 no então distrito de Santana do Deserto (que nessa época pertencia a Juiz de Fora). Filha de Alfredo Lino Ferreira e Maria das Dores de Andrade Murta, cursou o Normal no Colégio das Irmãs Imaculada Conceição, em Barbacena/MG, no final do século 19, tendo ali recebido sólida formação educacional e moral, que a preparou para superar as adversidades que a vida iria lhe impor. Em 1908 foi transferida para o então Distrito de Congonhas do Campo tornando-se a primeira professora habilitada na localidade (existiam nessa época em Congonhas apenas 4 escolas primárias isoladas, sendo 2 para meninos e 2 para meninas). Na ocasião foi lecionar no Distrito do Redondo (atual Alto Maranhão), aonde ia diariamente montada num cavalinho, na companhia de um moleque. Como era cansativo e precário o trajeto, passou a se hospedar no casarão, hoje em ruínas, de José Moreira de Souza e Silva (Capitão Zeca Moreira). Foi aí que conheceu seu futuro esposo - Manoel Jacintho de Freitas (ou “Manoel André”como era conhecido), natural do Distrito do Redondo e filho do fazendeiro Antônio José de Freitas e de Fortunata Cordeiro de Freitas. Ao receber o pedido de casamento feito pelo namorado, Dona Lalá foi contrariada por sua Mãe que alegava a filha ser formada e Manoel, um simples lavrador. Foi então que Dona Felismina “Gonzaga”, esposa do Capitão Zeca Moreira resolveu ajudá-la: “Lalá, você é uma professora formada, emancipada, e o Manoel é um moço simples, mas de boa família, trabalhador e religioso. Fica aqui em casa que eu vou fazer o seu casamento”. E assim foi feito: os noivos se casaram em 26de agosto de 1908 e ao invés de convite, enviaram aos familiares e amigos um comunicado de casamento com uma linda foto do casal. A família de Lalá aceitou o fato consumado e o casal, além muito feliz, constituiu uma família de oito filhos - Antônio (Totônio), Maria Nazareth (Maninha), Fortunata (Naná), José Lunardi (Juquinha), João Donato, Lindaura (Filinha), Alfredo e Djalma. Dona Lála ainda viveu um período de angústia e incerteza ao lado do esposo Manoel, que passou por um longo período doente, vindo a falecerem 5 de junho de 1927. Agora viúva, Dona Lalá teria que criar e educar sozinha seus 8 filhos, o que ela fez com muita luta, energia e coragem. Pouco tempo depois do falecimento de Manoel, Dona Lalá teria outro desafio como missão em sua vida: em 15de junho de 1929,com a promulgação do Decreto Estadual nº 9.093, era autorizada a criação do grupo escolar “Congonhas do Campo”, sendo efetivamente instalado em 15de fevereiro de 1930 na rua Padre João Pio em um imóvel alugado, próximo à igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, tornando-se o primeiro grupo escolar do distrito de Congonhas do Campo. Em outubro desse mesmo ano Dona Lalá era nomeada, por um curto período,diretora interina da recém-criada escola em substituição do diretor José Augusto de Resende. Somente em 1932 é que seria nomeada Diretora para o biênio 1932/1933, cargo que ocupou com afinco e dedicação.Nessa mesma época, iniciou-se o trabalho para a aquisição de um terreno para a construção da sede própria do grupo escolar. Sendo a Dona Lalá diretora e possuidora de terrenos na região central de Congonhas, achou-se na condição de doar um terreno para a construção do novo prédio, terreno esse localiza dona Av. Presidente Vargas. Sob a gestão do prefeito municipal Alberto Teixeira dos Santos Filho – o “Dr. Albertinho”, em 1944 iniciaram-se as obras de construção do grupo no terreno doado por Dona Lalá, com financiamento pelo Governo de Minas Gerais. A inauguração se deu no princípio do ano de 1945, com a presença das autoridades locais,professores, pais, alunos e claro, de Dona Lalá. No mesmo ato inaugural, o grupo escolar “Congonhas do Campo” foi rebatizado, recebendo a denominação de grupo escolar “Barão de Congonhas” através do Decreto Estadual nº 2.143, em atividade até os dias atuais. Após 37 anos dedicados intensamente ao ensino em Congonhas, Dona Lalá aposentou-se de suas atividades, mas não deixou de prestar apoio a quem necessitasse de auxílio educacional.Maria José de Andrade, a “Dona Lalá”, faleceu em 8 de setembro de 1975,aos 93 anos, em Congonhas. Pelos seus feitos enquanto educadora e pela genorosa atitude em doar o terreno para construção da sede do grupo escolar, foi homenageada, “in memoriam”,pela Prefeitura de Congonhas emprestando seu nome à escola do bairro Jardim Profeta, que recebeu a denominação de “Escola Municipal Dona Maria José de Andrade”, através da Lei Municipal nº 617, em 1974. Dona Lalá foi exemplo de mulher dedicada à causa educacional quebrando padrões em sua época, onde era “normal”a mulher cuidar somente dos afazeres familiares. Foi uma Mãe muito querida por seus filhos e uma diretora estimada e respeitada por quantos tiveram o privilégio de trabalhar e conviver com ela. Venceu preconceitos, formou cidadãos de bem e trilhou com maestria o árduo caminho que promove a educação, deixando um legado para as gerações seguintes de professoras que nela se espelharam para educar milhares de crianças em nossa cidade, inclusive uma de suas filhas, a Fortunata (Naná), que seguiu seus passos no magistério, destacando-se como uma renomada professora em Congonhas, emprestando seu nome à Escola Municipal Fortunata de Freitas Junqueira.