O Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC) realizou na noite de 29 de março sua primeira reunião de 2023 nas dependências da Biblioteca Djalma Andrade.
Com grande presença de seus confrades e confreiras, além das pessoas interessadas e convidados, a reunião teve como palestrante o afamado José Herculano Amâncio, popularmente conhecido como “Ticula”, Regente do Coral Cidade dos Profetas, que neste próximo 1º de maio completará 35 anos de atividades.
O tema da palestra foi a “música colonial mineira” e “Ticula” brindou os presentes com seu profundo conhecimento sobre o assunto. Discorreu sobre os principais nomes da musicalidade mineira no século XVIII e o legado deixado por eles, como José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, Manoel Dias de Oliveira (Tiradentes), Preciliano José da Silva, Antônio dos Santos Cunha, Pe. José Maria Xavier (São João del Rei), Pe. João de Deus Castro Lobo, Jerônimo de Souza Lobo, Marcos Coelho Neto (Ouro Preto), Joaquim de Paula Souza (Prados). Citou ainda os músicos Francisco de Paula Ferreira, natural de Congonhas (1777 - 1833), Franklin de Paula Rodrigues, este nascido no Distrito do Redondo (1874 - 1935), atual Distrito do Alto Maranhão em Congonhas e Porfírio Antônio Fernandes (1823 - 1893), natural de São Brás do Suaçuí.
Como sabemos, o século XVIII nas Minas Gerais foi o período mais importante da história da música colonial brasileira, alcançando níveis estéticos, de criação e execução, e de volume de produção, inacreditáveis para a época e condições culturais que imperavam no Brasil.
“Ticula” nos revelou que, por incrível que pareça, esse universo musical era desconhecido dos brasileiros até 1944, quando foi descoberto por Francisco Curt Lange, um musicólogo alemão naturalizado uruguaio, que pesquisava a música colonial do Brasil. Com ele foram se revelando as atividades musicais de um século de história da música brasileira, justamente aquele período mais significativo e intrigante, ligado a mudanças sociais, econômicas e políticas.
Segundo “Ticula”, Curt Lange, pesquisando no interior de Minas Gerais, encontrou centenas de partituras existentes entre as famílias de músicos do passado. Lange percorreu cidades como Prados, Mariana, São João d’El Rey e Tiradentes. No final dos anos 1950, ele já havia reunido milhares de partituras, cujo provável destino seria a destruição. As partituras colecionadas por ele fazem parte hoje do acervo do Museu da Inconfidência, em Ouro Preto, onde há obras dos principais compositores mineiros do período colonial, entre eles José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita.
Naturalmente o fator econômico decorrente da riqueza das minas de ouro e diamantes foi um dos determinantes desse desenvolvimento musical extraordinário. Mas isso não explica o fenômeno em toda a sua extensão. Bahia e Pernambuco também foram poderosas economicamente e tiveram vida musical expressiva, mas muito aquém do que ocorreu nas Minas Gerais.
A mineração aurífera (e de diamantes) se dava em três grandes áreas do território mineiro: as Comarcas do Rio das Mortes cujo centro era São João d’El Rey; a de Vila Rica e Mariana; e a do Rio das Velhas, com centros em Sabará e Caeté. Como a riqueza extraída era pujante, significa dizer que haveria posteriormente vida musical intensa nesses locais, sendo os principais músicos do período recebendo vultosas cifras para produzir as composições.
“Ticula” também explicou como foi sua incursão no meio musical e que é um autodidata, sempre se dedicando aos estudos da música, em particular da musicalidade barroca mineira.
Sua palestra foi uma magnânima aula sobre a música colonial mineira e sua peculiar simplicidade e carisma cativou a todos.
Ao final houve a manifestação de vários presentes com lembranças de outras épocas quando ainda as missas eram cantadas nas igrejas. E ainda foi abordada a questão do órgão que existia na Basílica do Bom Jesus em Congonhas, além da caixa do mesmo que foi feita pelo Mestre Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho em 1808.
Foi uma noite espetacular e de muito aprendizado.
Fotos: Flávio Almeida, Hugo Cordeiro, Paulo Henrique de Lima