O Instituto Histórico e Geográfico de Congonhas (IHGC) realizou no sábado, no dia 23 de setembro de 2023, o 4º Passeio Cultural de 2023 na cidade de Itabirito, que celebrou no último dia 7 de setembro seu centenário de emancipação político/administrativo.
Com um grupo formado por mais de 20 confrades e confreiras, além de vários convidados, o passeio teve a presença ilustre do Embaixador da Estrada Real e Membro do "Caminhos de São Tiago" - José Carlos Gomes (Tarol), que é especialista em demarcação de rotas turísticas e do turismo de aventura 4X4 Off Road, e também da turismóloga Clarissa Alves, que tem desenvolvido trabalhos de sucesso em Conselheiro Lafaiete e região.
Distante cerca de 53km de Congonhas, o surgimento da povoação de Itabirito remonta o final do século XVII com a presença de bandeirantes paulistas na região. No início do século XVIII as primeiras sesmarias de terras foram oficialmente estabelecidas pela Coroa Portuguesa com a chegada do Capitão-mor Luiz de Figueiredo Monterroio e de Francisco Homem Del Rey à região do Pico de Itaubyra (atual Pico de Itabirito), em 1709, dando início aos primeiros núcleos fixos de habitantes e a intensificação da extração de ouro no atual distrito sede de Itabirito. As minas de Cata Branca e Córrego Seco, situadas na localidade de Arêdes, são parte deste período.
Itabirito se localiza na bacia hidrográfica do Rio das Velhas, primeira grande referência das bandeiras paulistas, uma delas capitaneada por Fernão Dias Paes, o lendário caçador das esmeraldas. Inspirados pela imagem de Nossa Senhora presente no retábulo retirado da Nau do Capitão-mor Luiz de Figueiredo Monterroio, os habitantes começaram a denominar a localidade como Arraial de Nossa Senhora da Boa Viagem de Itaubyra do Rio de Janeiro. Na parte alta dessa localidade, foi construída a Ermida de Nossa Senhora da Boa Viagem que, posteriormente, tornou-se uma capela curada. Em 1745, devido ao crescimento da população, o arraial foi elevado à categoria de freguesia, passando a ser denominado como Itabira do Campo, e a capela transformada em matriz. Com a emancipação a cidade mudou novamente de nome para Itabirito, que em tupi guarani, significa “pedra que risca vermelho”.
Chegando na entrada da cidade visitamos rapidamente o monumento dedicado à história da Usina Esperança, fundada em 1888 por Joseph Gerspacker, Amaro da Silveira e Carlos da Costa Wigg, que construíram o primeiro forno com capacidade de fundir 6 toneladas de minério por dia, inaugurado 1891. Foi construído com pedras e tijolos refratários produzidos no próprio local, os primeiros de produção brasileira, um marco na industrialização siderúrgica em nosso país.
Em seguida nos encontramos com Carlos Carmo (historiador) e Luan Ribeiro (arquiteto e urbanista) que realizaram o guiamento do nosso grupo pelos principais pontos da cidade. Contamos também com a presença do radialista e memorialista Lauro Bastos, diretor da rádio Estrada Real FM 103,3 de Itabirito.
E fomos logo saborear um delicioso café da manhã com Pastel de Angu na "Casa do Pastel de Angu de Dona Nilda", que nos ofereceu a tradicional e premiada iguaria com seus variados sabores. Dona Nilda é, inclusive, premiada no Festival de Quitandas de Congonhas.
Energias repostas, seguimos para o para o Alto do Cristo, monumento inaugurado em 1983 localizado no alto do principal cume da área urbana de Itabirito. De lá tivemos a oportunidade de ver, em 360º, toda a exuberante cadeia de montanhas que cerca da cidade, o pico de Itabirito, a serra da Gandarela e a lendária "Sabarabuçu". Nesse local também avistamos o que foi a Mina de Cata Branca, explorada pela empresa inglesa "The Brasilian Company Ltda" que estruturou um dos principais processos tecnológicos de mineração subterrânea existentes no Brasil durante a primeira metade do século XIX. Mas a mina teve um desfecho nefasto: desabou em 1844 ceifando a vida de quase 200 escravizados.
Saímos do Alto do Cristo e seguimos para a Capela devotada ao Senhor Bom Jesus de Matozinhos, construída no quarto final do século XVIII. E a devoção ao Bom Jesus muito se parece com a devoção instalada em Congonhas por Feliciano Mendes a partir de 1757. A decoração e a própria capela são singelas se comparadas com a Basílica do Bom Jesus em Congonhas, mas o fervor devocional é forte e marcante.
Dalí seguimos para a Capela de Nossa Senhora das Mercês que se localiza pouco mais de 200 metros ladeira abaixo. Outro esplendor da arquitetura colonial mineira do século XVIII. A rua ainda mantém grande parte do casario bem preservado e uma atmosfera charmosa e bucólica. Na mesma ladeira paramos para o almoço em um restaurante que conserva as características da construção do século XIX, preparando e servindo os tradicionais pratos da culinária mineira.
Repostas as energias seguimos para as ruas históricas da área central de Itabirito: a rua do Rosário, que faz confluência com a Praça Dom Silvério e a rua 07 de Setembro. Nesse ponto recebemos preciosas informações acerca da Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem e da Igreja de Nossa Senhora dos Pretos. E ainda a homenagem prestada ao imortal congonhense Dom Silvério Gomes Pimenta, reverenciado na cidade de Telê Santana e Silvestre (dois grandes futebolistas brasileiros) e com direito a placa alusiva às comemorações de seu centénário de nascimento de 1940.
Da área histórica seguimos para a moderna Praça do Centenário, novo espaço de lazer e visitação. A modernidade da Praça é apresentada por meio de totens que contam a história do município (através de QR Code), do primoroso projeto de jardinagem, e do recém restaurado casarão denomiado "Centro Cultural Padre Francisco Xavier", que possui um moderno sistema de exposição denominado "Colhendo Memórias", cujo propósito é o de registrar memórias individuais dos itabiritenses por meio de reprodução oral, em vídeos e animações, preservando as histórias, feitos e conquistas de seu povo. Ideia genial que demonstra a sensibilidade de seus gestores culturais.
E para finalizar o passeio visitamos a centenária "Mercearia Paraopeba". Foi como viajar no tempo e rever como era a vida de nossos pais e avós. Um tempo em que as pessoas tinham sempre um minuto livre para uma boa prosa na mercearia e lá ficavam sabendo das últimas notícias da cidade. Um tempo em que a comida era feita em casa e em que amigos e família se reuniam ao redor da mesa para apreciar as quitandas feitas com ingredientes regionais. Sim, definitivamente, um tempo que passava mais devagar e que deixou muita saudade. Fundada em 1884, a Mercearia Paraopeba está na 3ª geração da mesma família, mantendo a mesma hospitalidade e trato com seus clientes. Comercializa produtos em sua maior parte, fornecidos por pequenas propriedades rurais e artesãos locais. Um charme e tanto. São muitas peculiaridades e grande variedade de produtos à venda. Vale a pena visitar e entrar no "túnel do tempo".
O passeio do IHGC teve o traslado feito pela AG Turismo, que o faz de maneira primorosa. - (31) 99794-0924.
Mais um passeio cultural memorável onde compartilhamos conhecimentos e adquirimos novos aprendizados. Que venha o próximo.
Fotos: Breno Booz, Maria da Paz, Jonathan Reis, Maria Auxiliadora Mendes, Tarcísio Martins e Carlos Carmo.